O charme da imperfeição -Vejo aí um poeta que, como muitos seres humanos, atrai bem mais por suas imperfeições do que por tudo o que sai elaborado e perfeito de suas mãos- sim, a vantagem e a fama lhe vêm antes de sua derradeira incapacidade que de sua rica energia. Sua obra nunca expressa inteiramente o que ele gostaria de expressar, o que ele gostaria de ter visto: como se ele tivesse o antegosto de uma visão, nunca ela mesma; mas uma enorme avidez por tal visão lhe permaneceu na alma, e dela retira ele sua igualmente enorme eloqüência do anseio e da fome. Com ela, ele alça quem o escuta acima de sua obra e de todas as “obras”, dando-lhe asas para subir a alturas que normalmente os ouvintes não alcançam. Assim, tornando-se eles próprios poetas e videntes, tributam ao autor de sua ventura uma admiração tal, como se ele os tivesse levado diretamente à contemplação do que para ele é sagrado e supremo, como se houvesse atingido a sua meta e realmente visto e comunicado a sua visão. Sua fama é beneficiada pelo fato de ele nunca ter chegado à sua meta.
em A Gaia Ciência
Enviado por Alvaro Fagundes
em A Gaia Ciência
Enviado por Alvaro Fagundes


3 Comments:
At 6:21 PM,
leonardo marona said…
de uma forma ou de outra, eu precisava ler isso. obrigado.
At 2:30 AM,
CFagundes said…
Aproveitando o manifesto de Werner Herzog, sobre o cinema verdade, que está publicado a uns degraus abaixo, para replicar: "Fatos criam normas, e verdade cria iluminação"
At 11:57 AM,
leonardo marona said…
engraçado, lendo as iluminuras do rimbaud eu achei uma citação do nietzsche (esse papo tá ficando meio metido à besta), que, sendo o tema do texto a poesia, achei que deveria compartilhar com vocês:
"Nosso olho acha mais confortável responder a um estímulo dado, reproduzindo uma vez mais uma imagem produzida anteriormente, em vez de registrar o que é diferente e novo numa percepção"
que tal?
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