A rotina tem seus encantos

domingo, outubro 15, 2006

“roçam-se os pés”

acho que
todo mundo
um pouco
no fundo
sem saber
quer o amor
que é o fruto
de outro sigilo
secreto sepulcro
mal-estar noutro
sem saber que quer
mesmo sem dúvida
um canto de vírgula
que sirva de túnica
às tardes esquecidas
que curam e ardem
nas noites sem lua
nuas como aquela
silhueta sem foco
que falta na cama
ao lado do cheiro
do beijo de olhos
do fim de semana:
herança de traças.
agora é tarde e frio
os cílios se dobram
e existe certo vazio
que só preenchemos
com calor hesitante
e os pés enlaçados
carregam o instante
gelado com gelado
é igual a dois lados
para sempre sólidos
inquebrantáveis que
quando perfuram poros
marcam nossa distância
com hematomas lilases
como flores de inverno
na estampa do lençol.
mas bem lá no fundo
quando a luz falece
todos nós esperamos
alguém que nos ame
como se não soubesse.

Leonardo Marona

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