A rotina tem seus encantos

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Vídeo Resistente

Qual é a importância de uma câmera mini-dv nas nossas vidas?

O olhar, agora mais do que nunca, se aliou ao pensar. Perceber com o olho e com o ouvido é uma forma de pensar. O vídeo, antes de ser uma nova forma de representação, é uma nova forma de pensar (deixo aqui de lado a palavra cinema em prol de uma nova postura, assim como Bresson preferiu usar a palavra cinematógrafo, eu resolvi usar a palavra vídeo, mesmo sabendo das difíceis consequências dessa palavra). Penso, logo existo; ou, penso, logo faço vídeo. O vídeo antes de ser uma (vontade de) linguagem, é uma realidade, a do pensar. E pensar é fazer poesia, é atingir o inatingível, é dizer o indizível, é poder respirar perante todas as contradições do mundo e fazer o que ninguém jamais ousou, é viver só como você pode viver, é resistir.

O vídeo é uma extensão da minha mente e em minha vida está inserido, é produção auto-crítica e transformadora da minha pessoa. É a reeducação pelo vídeo.

Como se colocar diante dessas novas possibilidades?

Uma imagem não deve querer dizer nada porque ela deve ser tão ampla quanto a própria vida. Uma imagem não deve se reduzir a si mesma, ela deve sugerir outros mundos que não o dela mesma. O nosso papel é tentar captar (registrar) esse movimento, devemos ser rigorosos e não apelar para soluções fáceis, tudo está aberto e é por isso que devemos ter o máximo de concentração e a habilidade para condensar (dichten = condensare: Ezra Pound).
A espontaneidade do vídeo leva a crer num fim do artesanato, mas o que acontece não é isso, a pessoa que trabalha com vídeo é, de certa forma, um alquimista, mas que trabalha com novos ingredientes.

Pra mim, um dos grandes papéis da arte é aprofundar a nossa visão sobre a realidade e intensificar a idéia de que nós pertencemos a alguma coisa, e que nem tudo é sem sentido, apesar de incerto. Estamos num mundo cada vez mais destituído de princípios, cada vez mais reduzido a uma condição miserável, e precisamos voltar a acreditar em alguma coisa que não seja a lógica do dinheiro, talvez a lógica do desejo, e é pra isso que o vídeo está aqui, como instrumento de resistência.

Por que o vídeo?

O vídeo não é nenhuma entidade divina que deve ser idolatrada. É só mais um avanço tecnológico-mecânico. O importante é como nós percebemos e não como o vídeo percebe (vide a diferença de exemplos no trabalho com o vídeo: Pedro Costa e Abbas Kiarostami, ou Nobuhiro Suwa e Lars Von Trier). O vídeo se insere na história do cinema e devemos estar atento a isso, o vídeo é uma confirmação da história do cinema (vide os exemplos que eu dei em cima).

Termino aqui com uma frase do Godard: Um olhar nunca é profundo. O que é profundo é a extensão, a extensão de uma relação precisa entre o desconhecido e o conhecido. Pensar.
voz off de Comment ça va, Godard-Miéville

E uma do Murnau pra fazer pensar: "Real art is simple, but simplicity requires the greatest art."

Ricardo Pretti

2 Comments:

  • At 12:06 AM, Anonymous Anônimo said…

    só pra dizer que esse texto é só do ricardo e que está incompleto. vamos mandar o texto completo.
    abs.

     
  • At 11:03 AM, Blogger Clarisse said…

    agora tô apaixonada pela arquitetura,
    mas o cinema
    continua sendo
    sempre
    paixão-mor.

    saudade.

     

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