A rotina tem seus encantos

terça-feira, janeiro 02, 2007

os malditos não choram ou elegia ao pão de cada dia

dedicado a John Coltrane e Tia Mulata


pão beijo na boca padaria madrugada café na cama ereção matinal namorada filé com fritas tédio fugidio declínio cama levita uivo desejo pálido copula evita destino trágica relação mutante orgulho cálido ovulação borbulhante de pus sangue escárnio casamento.

pão bebum no ralo da sinuca bafo de pinga punho escarro fétido na cara tapa de quem parece tua própria cara lavada amarga verniz da morte acalentada acende desfiladeiro armas e corações partidos copos de vidro mesas onde brindávamos até o fim da noite amizade.

pão passo firme no soalho ímpeto de mãos vazias prantos pavor pecado bafo frio cigarro longas unhas curvas túmulos dos teus desejos medonhos sonhos cultivados para sempre serem roídos ombros contrações latentes do teu sorriso sujo guardado junto do teu contato em esponjas de sol luz de banho sob olhar preguiça que guardava costas até noite quando sinais repetem sonhos que se repetem sou inútil sem tuas sardas no meu travesseiro.

pão trás leva esconde pecado perdão diário de dó de ló mentiras e alho no ritmo do vai e vem no nó da aureola do diamante intacto recente maculado a cada pão que sopra hálito diabo nas orelhas maltratadas por razões entranhas estranhas ao próprio diabo que é você mesmo com um saco de pão nas mãos voltando pela madrugada cara lavada perfumada outra para cair nos braços da mesma maior pecadora que aceita recolhe cacos das fatia de amor sobra da devassidão.

pão eterno cúmplice único a quem não precisamos jamais perdoar por seus farelos ou pedir perdão pelos sacos escuros onde os guardamos à noite quando só as formigas se mexem para sempre abandonados capachos da dor a quem muitos murmuram destinos e pecados.

Leo Marona

2 Comments:

  • At 10:10 PM, Anonymous Anônimo said…

    Não entendi a dedicatória, mas gostei da tua elegia ao pão.

     
  • At 7:15 PM, Blogger leonardo marona said…

    tia mulata é uma tia avó minha que nunca existiu e fumava charuto e tocava blue grass e me ensinou a comer pão. john coltrane fez de tudo para me dar algum ritmo, mas no fim das contas acabava batendo asas e ia comer tortas de merengue.

     

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