Sobre o vídeo resistente
Uma palavra que vem me assolando, ou talvez abrindo os meu olhos para uma certa maneira de ver/entender a vida nos últimos tempos, veio a dar o nome desta oficina: RESISTÊNCIA. Porque essa palavra é tão importante? É uma palavra que está completamente fora de moda e há muito tempo não vem sendo tratada como ela merece. Eu posso falar por mim mesmo que há poucos meses atrás certamente não estaria vendo o trabalho que eu faço como modo de resistência.
Na verdade, eu passei a adolescência toda para entender que era ingenuidade, e até burrice, acreditar numa revolução. A desilusão, provinda de uma reação à falha de uma revolução cultural e política que supostamente teria acontecido em 1968, era a única possibilidade, e a única maneira razoável de entender o que havia acontecido com aquela revolução (revoluções) e com as pessoas que dela haviam participado. Por isso, um mundo sem utopias e sem crença. É claro que essa espécie de niilismo não dura, pois precisamos acreditar em alguma coisa senão o sentido de estar vivo desaparece. Passei então a acreditar no ato de criação e na criação em si (a obra de arte) que ao meu ver era a única na qual eu podia confiar inteiramente meus esforços e dar a minha cara a tapa que ela nunca me decepcionaria e nem me abandonaria. Uma relação de amor se estabeleceu. E, realmente, eu acho que posso dizer que toda a minha obra é sobre o ato de criação e a relação obsessiva que eu tenho com esse momento: arte que fala sobre o fazer arte. Daí o fascínio por Duchamp.
O lado bom disso tudo é que eu realmente amo o que eu faço. O lado ruim é que eu me afastei e me isolei não fazendo caso das relações políticas que estavam ao meu redor. Já fui chamado de burguês do Leblon que precisava conhecer a tijuca. Já disseram que eu deveria comer mais feijão. Já disseram que meus filmes com o Ricardo deveriam ter músicas brasileiras. E certamente já falaram muito mais. Esses comentários são reações naturais ao que a gente pode dizer que são filmes (vídeos) voltados para o próprio umbigo. Mas que umbigo é esse? É o meu, é o do Ricardo e é de quem quer que o seja. É bem claro que o que vemos no outro é sempre a partir de nós mesmos, da nossa vontade e da nossa capacidade de ver/entender o que vemos/entendemos. Um amigo meu disse que a primeira vez que ele viu um filme dos irmãos Pretti ele viu que era possível o que ele antes considerava impossível. O que existe, e isso é inegável, é uma vontade incontrolável de fazer os vídeos. Então foi o que fiz. Vídeo atrás de vídeo desde os 16 anos de idade. Primeiro com uma câmera vhs, depois com uma hi-8, depois uma mini-dv e hoje com uma hdv. Foram tantos vídeos feitos que eu já perdi a conta, mas todos eles por mais ruim que fossem foram feitos com muito amor.
O que eu não entendia antes que agora eu entendo é que sempre existiu uma crença política enorme nesses vídeos todos. Uma crença num estilo de vida que é extremamente subversivo quando consideramos a mediocrização total da nossa burguesia e o medo imenso de fazer qualquer coisa que esteja fora dos padrões aceitáveis do senso comum. Eu que venho do Rio de Janeiro sei que o que todos querem lá é se estabelecer dentro do que já é estabelecido. Assim fica impossível que o que chamamos de arte respire para ganhar novo fôlego. Por isso eu posso dizer que o que eu faço é uma resistência. Eu resisto contra o medo e os meus vídeos são uma prova dessa resistência.
Agora nos resta tomar consciência do que é e pensar o que é um vídeo resistente.
Luiz Pretti
Uma palavra que vem me assolando, ou talvez abrindo os meu olhos para uma certa maneira de ver/entender a vida nos últimos tempos, veio a dar o nome desta oficina: RESISTÊNCIA. Porque essa palavra é tão importante? É uma palavra que está completamente fora de moda e há muito tempo não vem sendo tratada como ela merece. Eu posso falar por mim mesmo que há poucos meses atrás certamente não estaria vendo o trabalho que eu faço como modo de resistência.
Na verdade, eu passei a adolescência toda para entender que era ingenuidade, e até burrice, acreditar numa revolução. A desilusão, provinda de uma reação à falha de uma revolução cultural e política que supostamente teria acontecido em 1968, era a única possibilidade, e a única maneira razoável de entender o que havia acontecido com aquela revolução (revoluções) e com as pessoas que dela haviam participado. Por isso, um mundo sem utopias e sem crença. É claro que essa espécie de niilismo não dura, pois precisamos acreditar em alguma coisa senão o sentido de estar vivo desaparece. Passei então a acreditar no ato de criação e na criação em si (a obra de arte) que ao meu ver era a única na qual eu podia confiar inteiramente meus esforços e dar a minha cara a tapa que ela nunca me decepcionaria e nem me abandonaria. Uma relação de amor se estabeleceu. E, realmente, eu acho que posso dizer que toda a minha obra é sobre o ato de criação e a relação obsessiva que eu tenho com esse momento: arte que fala sobre o fazer arte. Daí o fascínio por Duchamp.
O lado bom disso tudo é que eu realmente amo o que eu faço. O lado ruim é que eu me afastei e me isolei não fazendo caso das relações políticas que estavam ao meu redor. Já fui chamado de burguês do Leblon que precisava conhecer a tijuca. Já disseram que eu deveria comer mais feijão. Já disseram que meus filmes com o Ricardo deveriam ter músicas brasileiras. E certamente já falaram muito mais. Esses comentários são reações naturais ao que a gente pode dizer que são filmes (vídeos) voltados para o próprio umbigo. Mas que umbigo é esse? É o meu, é o do Ricardo e é de quem quer que o seja. É bem claro que o que vemos no outro é sempre a partir de nós mesmos, da nossa vontade e da nossa capacidade de ver/entender o que vemos/entendemos. Um amigo meu disse que a primeira vez que ele viu um filme dos irmãos Pretti ele viu que era possível o que ele antes considerava impossível. O que existe, e isso é inegável, é uma vontade incontrolável de fazer os vídeos. Então foi o que fiz. Vídeo atrás de vídeo desde os 16 anos de idade. Primeiro com uma câmera vhs, depois com uma hi-8, depois uma mini-dv e hoje com uma hdv. Foram tantos vídeos feitos que eu já perdi a conta, mas todos eles por mais ruim que fossem foram feitos com muito amor.
O que eu não entendia antes que agora eu entendo é que sempre existiu uma crença política enorme nesses vídeos todos. Uma crença num estilo de vida que é extremamente subversivo quando consideramos a mediocrização total da nossa burguesia e o medo imenso de fazer qualquer coisa que esteja fora dos padrões aceitáveis do senso comum. Eu que venho do Rio de Janeiro sei que o que todos querem lá é se estabelecer dentro do que já é estabelecido. Assim fica impossível que o que chamamos de arte respire para ganhar novo fôlego. Por isso eu posso dizer que o que eu faço é uma resistência. Eu resisto contra o medo e os meus vídeos são uma prova dessa resistência.
Agora nos resta tomar consciência do que é e pensar o que é um vídeo resistente.
Luiz Pretti


3 Comments:
At 12:16 AM,
Anônimo said…
pra que entendam: esses dois textos foram escritos para uma oficina que demos aqui em fortaleza na ocupação da casa que será a sede da escola de audiovisual, mas que por razões burocráticas as obras que deveriam ter começado faz algum tempo para que as aulas pudessem começar agora em cinco de março não foram feitas e os alunos estão sem sede. por conta disso eles ocuparam a casa durante dez dias e fizeram uma programação cultural com vários acontecimento legais. umas das coisas que aconteceram na casa (que antes da ocupação estava completamente depredada e abandonada) foi a nossa oficina sobre o que chamamos de vídeo resistente. por isso, os dois textos.
At 6:39 AM,
natércia pontes said…
eu também resisto.
palmas para ti.
At 2:14 AM,
CFagundes said…
Agradável saber que os dois estão vivos. Legal que as pessoas tenham tido vcs dois, essas referências, aí ao Norte.
O que acho uma pena é que tenham que chegar à conclusões tão cedo; ainda é tempo de comer feijão.
Quanto ao veado da tijuca, bem, tantos lugares a conhecer...
Falando em feijão, quem é que edita esta porra, será o João?
Muito amor, e feijão.
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