A rotina tem seus encantos

sexta-feira, abril 13, 2007

“Posto 9”

O resto deve ser reduzido pouco a pouco, leio no final do meu horóscopo do dia, e a mulher comigo diz que “são todos embaralhados e sorteados pelos piores estagiários, os horóscopos do dia”, e de fato olho para ela e penso como é estranha a expressão “a mulher comigo”, enquanto atrás de mim toca um telefone, tocam vários telefones, e ouço palavras numa língua que não conheço, parecem altas as palavras, mas são muitas e, desconexas, todas começam como terminam, mas aparentemente só a mim incomodam, pelo que me viro para trás e vejo um sujeito atlético, de uns 50 anos, mas que fala como se tivesse 15, discutindo em termos baixíssimos com outro sujeito de uns 50 anos, mas que aparenta 70, os dois discutem e fumam cigarros de maconha, que parecem surgir da areia como esfinges não-poéticas, tais quais as mulheres desesperadas, que sorriem e lêem Rosamunde Pilcher, ou como o negro pobre retirante nordestino, que há milhares de anos, talvez mais, nos oferece algo para beber - e os gritos se atrasam para mais uma revolução, enquanto leitores de Zuenir Ventura e Deleuze aplaudem o pôr-do-sol.
Leo Marona.

2 Comments:

  • At 8:24 PM, Anonymous Anônimo said…

    leo, quando li este texto no teu blog, eu imaginei um escritório, talvez de um jornal.estranho, acho que não prestei atenção ao título, ou te imaginei escrevendo no trabalho, onde tocam telefones. mas os telefones tocam em todos os lugares. este texto não tem fim ou começo, ele perpassa essa sensação de que tudo está fora do lugar, fina melancolia e glória, só resta aplaudir. no seu ritmo veloz, alguns contos e poemas eu gosto muito mais do que outros, mas todos sempre soam bem, como golpes certeiros. me identifico com eles, têm sempre um desespero que beira o sublime. és um belo escritor.

     
  • At 4:29 PM, Blogger leonardo marona said…

    danizinha de deus! obrigado pelo "és", fiquei emocionado. um beijo.

     

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