A rotina tem seus encantos

quarta-feira, junho 14, 2006

A Copa do Mundo tem mesmo uma grande magia. O país pára e não quer nem saber. Todo mundo junto para vivenciar momentos loucos de emoção. Aqueles que se limitam a constatar uma febre de alienação, de país subdesenvolvido que esquece sua dignidade e deveres políticos, deixando-se manipular pela mídia, etc etc e blábláblá, estão claramente contornando o sério e simples aspecto filosófico do assunto. A copa do mundo é graciosa, é nobre, é linda e oportuna, bem porque atenua por um mês a nossa condição de seres miseráveis nesse mundo escroto e fudido. Nesse mundo que abriga tantas outras culturas, sistemas, ideologias, religiões, etnias, síndromes, desastres, guerras, ganância, indiferença e miséria é putamerda muito normal que o valor atribuído à maior competição do esporte mais popular esteja fortemente relacionado ao status social de cada país. Nesse Brasil, que é um país de poucos, e de merda, regado de filhos da puta e sanguessugas incontáveis, alguns ricos e muitos pobres, abundante em escravidão, doença, impunidade, homicídio e abandono, muito é natural que sejamos os melhores no futebol, no carnaval, os mais festivos, pois que - seguindo a linha - não nos faltando inspiração para a dedicação ao esporte, não nos falta igualmente o implacável narcisismo para sermos “a mais bela entre as putas do planeta”. A Copa é a grande festa. Festa essa que não é nem de longe uma fuga. É antes de mais nada um desabafo. Afirmação universal das limitações da condição humana. Daí vem a grande alegria. Poder cultivar esse sentimento conjunto de impotência, mesmo que inconscientemente, em instantes de coletividade direcionada. O buraco é mais embaixo, Arnaldo César Coelho.


Sérgio Lohmann Couri

sexta-feira, junho 09, 2006

Existe no Brasil um deslumbre da parte de quem faz cinema. No Brasil o cineasta e sua equipe são como um grupo de crianças visitando a Disney World pela primeira vez. É com esse mesmo olhar que eles olham para um set de filmagem. Quando não é assim esse deslumbre é substituído por uma pompa. Quem faz cinema no Brasil faz porque não saberia fazer outra coisa. Porque fazer cinema no Brasil é muito fácil.

Luiz Pretti