A rotina tem seus encantos

sexta-feira, novembro 30, 2007

“Otelo”

querer o que não se pode dar.
querer tudo, demais, para sempre.
depois nunca mais querer nada.

querer nunca como se melhor não ouvir a voz.
rejeitar o que nos espelha à superfície
dos olhos nas estátuas decapitadas.
almejar pureza, forçar pureza como virtude.
mas que vagos poros pontuam os corpos sonâmbulos?
que hora exata de sede é essa: de se olhar no espelho
ao fim de uma noite de prevaricações?

e logo depois a náusea de ter sede alguma.
ter o que não é possível denominar.
apropriar-se em sangue das ofensas emudecidas.
a compaixão por aceitar a própria indiferença.
o enterro da semente não plantada.


Leo Marona.