“As mulheres não estão totalmente erradas quando rejeitam as regras de vida que são introduzidas no mundo, pois foram os homens que as fizeram, sem elas. Há naturalmente rixa e arrelia entre elas e nós, mesmo a mais estrita concordância que tivermos com elas ainda será tumultuosa e tempestuosa. Na opinião de nosso autor, tratamo-las sem consideração nisto: depois de termos reconhecido que são, sem comparação, mais capazes e ardentes do que nós nos feitos do amor, e que aquele sacerdote antigo (Tirésias) assim atestara, ele que fora ora homem ora mulher, venus huic erat ultraque nota (“ele que conhecia Vênus em suas duas formas” Ovídio, Metamorfoses) e, ademais, depois que ouvimos da própria boca deles a confirmação que deram em diferentes séculos um imperador (Próculo) e uma imperatriz (Messalina) de Roma, mestres-se-obra e famosos nessa tarefa - ele deflorou numa só noite dez virgens sármatas, sua cativas; mas ela efetivamente atendeu em uma noite a vinte e cinco cometimentos, mudando de companheiro de acordo com a sua necessidade e gosto;” (Montaigne, Ensaios, Livro III, cap. V).
enviado por João Duarte.