A rotina tem seus encantos

quarta-feira, maio 31, 2006

Lista feita em cinco minutos dos cineastas que hoje em dia (há cinco anos atrás o godard estará aí) me fascinam.
Critério: cineastas que eu posso ver e rever infinitas vezes sem parar de ficar suspreso e intrigado e cineastas que desenvolveram uma linguagem rigorosamente pessoal e única. Estes cineastas não estão aí pelo seu valor histórico.

1- Jean-Marie Straub e Danièle Huillet (mesmo tendo visto só 5 longas e 2 curtas)
2- Robert Bresson
3- Carl Th. Dreyer
4- Hong Sang-Soo
5- João César Monteiro
6- John Ford
7- Apichtapong Weerasethakul
8- Hou Hsiao-Hsien
9- John Cassavetes
10- Yasujiro Ozu
11- Stan Brakhage e Peter Kubelka e Andy Warhol
12- Glauber Rocha e Rogério Sganzerla

terça-feira, maio 30, 2006

“sou o que faltava em mim”

a primeira coisa que fiz no porto alegre, após esquecer como evacuar, foi misturar meu choro à chuva que trazia a poeira invernal no fim do outono e, em seguida, ser enterrado junto a operários uruguaios com espessas suíças e dentes tártaros nas pedras da submissão civilizada, logo após ter visto dois homens esquecerem da possibilidade íntima com línguas afiadas em gomas de cabelo estéreis, enquanto meninas pálidas de estômago envernizado me lembravam o perdão meticuloso das saias bordadas nos dentes azuis do vinho barato, metade gengivas abastadas de chances, metade placas na direção distante das ruas tomadas pela enchente positivista, ou panturrilhas flácidas cobertas de olhos tagarelas até que a argamassa secou e fiquei...

...nas paredes da catacumba – como um rascunho esquecido – quente e acarpetada de pedras ruminadas pelo vento frígido, sobre as quais borbulhava e escorria o sangue da reserva especial do merlot Gambrinus, douravam-se suores acumulados na estrada asmática ainda curta, entrecortada pela areia vermelha da constipação emocional, onde havia também quadros: uma flâmula com a letra itálica de Rubias de New York – acima a foto de Gardel sem as bolas do saco e de chapéu pardo; Pablo Neruda embriagado em costeletas mortas dentro da boina listrada de avalanches, rosto congelado portanto, palmas de mão como última solução para o vento futuro; Albert Einstein sendo tão estrangeiro ali quanto eu, estranhamente, com um rabo de cavalo.

perguntei por entre a fumaça da vela fictícia, que transformava aquela masmorra num útero apodrecido pelo amarelado de fotos inimagináveis, sob a sombra de garotinhas e garotinhos góticos:

“vocês têm cerveja uruguaia aqui?”

“Patrício, Norteña ou Pilsen”, disse o rapaz de avental escuro, com cara de meia-direita trombador.

a cerveja tinha 960 mililitros, o frio era menos cortante lá fora do que no meu pensamento trespassado pela vaga lembrança de dentes grandes e pernas magras, brancas e tortas, como a necessidade – enterrada em sorrisos desconexos – de que um dia houvesse uma guria frágil e que fôssemos outra vez todos frágeis e apesar de tudo isso, de dois numa só fragilidade, quando fosse, tempo verbal hesitante, teria sido insípido como uma solução incompleta de instantes endurecidos em lágrimas, mas seríamos ao menos duas metades sem encaixe juntas, embriagadas de culpas antecipadas, porque se esperaria do mundo apenas o que se espera dos anjos, e minha memória carente de boas afeições, ou de ao menos algodões, doce se voltaria para o banheiro, onde poderia ainda compreender sozinha o som do meu peito, estigmatizado de flores, no reflexo da catarata espumante do desejo latrina de mais, sem saber como por menos, por um segundo ou dois, que passaram há muito e que mais uma vez não consegui sequer exprimir com modéstia e gratidão e palavras suficientemente simples, sempre intoxicadas pelo “por que não?” nas copas dos fungos nocivos de veias rítmicas em esperas absurdas sob a chuva que copula o inverno dos corações acinzentados como o asfalto ou dentes finos de carniça e obras populares sob a placa que diz em castelhano, enquanto meu cérebro avermelha nas raízes dos tijolos incompatíveis:

“há o mar, há o vinho, há o céu, há o barro; mas sem ti não há o milagre”.

havia, sim, um casal feliz, bem ali: a menina, muito alta e de nariz bávaro, flutuava para dentro do bolso do rapaz leporino feito em corte numa loja de departamentos onde nascem bebês – pobre sobretudo que nos acomoda em pêlos eriçados mas recônditos – molambos ambos sem se conhecer ou se conhecendo o suficiente para serem felizes.

outro casal, ali, bem ao meu lado, quando tudo em volta era um cálculo simples para dois: a menina parecia o rapaz e o rapaz parecia interessado no outro rapaz de avental que atendia por Morrón Guantelmo, ou algo como uma rua deserta onde verdadeiros poetas morrem de frio, mas honrados, e do outro lado, no erro obediente, o romance marulhava em grená: quem sabe meu sangue ou o reflexo do sangue que escorria do meu nariz através do espelho que refletia meu pai passado apenas pelo matiz anuviado de será?

de volta à realidade, foi difícil para mim, onde tudo menos paredes ou idéias borradas de norma marfim, só ligas de metal flutuantes nas pontes onde por baixo se sobe e por cima se vê o fundo das memórias fotográficas em sobrancelhas feitas de colonização alemã além do que não há mais nada que eu possa compreender agora que perdi meu travesseiro na estrada e Bob Dylan falhou enquanto o vento soprava forte e minha cabeça pende carente no que quente inventei do que vivo e os dedos doem nas teclas pardas porque faz frio e chovem facas mas meus amigos vão comigo onde de repente raízes sem caule se cobrem de uma esperança vaga – obrigado, Cartola, por tudo.

Leo Marona

segunda-feira, maio 29, 2006

Fetichismo de Raimundo Correia

Homem, da vida as sombras inclementes
Interrogas em vão: - Que céus habita
Deus? Onde essa região de luz bendita,
Paraíso dos justos e dos crentes?...

Em vão tateiam tuas mãos trementes
As entranhas da noite erma, infinita,
Onde a dúvida atroz blasfema e grita,
E onde há só queixas e ranger de dentes...

A essa abóbada escura, em vão elevas
Os braços para o Deus sonhado, e lutas
Por abarcá-lo; é tudo em torno trevas...

Somente o vácuo estreitas em teus braços;
E apenas, pávido, um ruído escutas,
Que é o ruído dos teus próprios passos!...

enviado por joão duarte

quinta-feira, maio 25, 2006

A Verdadeira Arte de Viajar

A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.
Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!
(Quintana in "A cor do invisível")
eniviado por Leo Marona

terça-feira, maio 23, 2006

Encantação do riso de Vielimir Khlébnikov


Ride, ridentes!
Derride, derridentes!
Risonhai aos risos, rimente risandai!
Derride sorrimente!
Risos sobrerrisos – risadas de sorrideiros risores!
Hílare esrir, risos de sobrerridores riseiros!
Sorrisonhos, risonhos,
Sorride, ridiculai, risando, risantes,
Hilariando, riando,
Ride, ridentes!
Derride, derridentes!

Traduzido por Haroldo de Campos
Enviado por Luiz

segunda-feira, maio 22, 2006

O trabalho de um escritor



enviado por Luiz

“Sorte no Amor”

Me recuso a admitir que a vida seja mera casualidade. Por exemplo, outro dia. Estava sentado num meio-fio da Rua da Lapa, pensando no que tinha feito para dar errado, na mão meu coração ainda quente, e dentro de algum salão meu desamor, quando conheci um casal que passava.

A mulher parecia bastante embriagada, os lábios quebradiços de tempo demais à beira do abismo, uma peruca africana dessas que se usa no carnaval – estávamos em fim de maio. Me pagou uma lata de cerveja e pegou uma para si na barraca ambulante de uma mulher a quem se dirigia como “loirona” – uma negra retinta com a boca grande que mantinha aberta, mas que raramente dizia algo.

O homem permaneceu de pé, sem sorrir, os olhos fundos e distantes, uma cabeleira de cantor de bolero desempregado, mas percebi delicadeza nos seus olhos, dor e delicadeza, porque os estranhei de imediato, e normalmente quando se estranha algo de imediato, pode ser a delicadeza à espreita. Mas a dor se sobrepunha.

A mulher sentou-se ao meu lado, eu que estava com frio e suado, enxugou minha testa com seus lábios, enquanto seu homem permaneceu com os olhos no vago, em pé. Então ela me sussurrou na orelha, depois de um abraço: “sonhei contigo ontem e você era meu filho”.

Eu não estava em condições de dizer nada àquela altura do campeonato, zero a zero e o empate era deles, mas a mulher tinha algo nos olhos também que me impedia de olhar para outro lugar. Era como se seus olhos fossem outro lugar, um único, e aquilo me envergonhou. Talvez porque fosse vesga.

Não me lembro muito bem do teor da conversa. Sei que ela lacrimejava, e foi uma daquelas conversas nas quais a resposta vem antes da pergunta, como se um magnetismo devasso se infiltrasse de repente na minha alma desbotada, através dos olhos dela, reflexo dos meus.

Em pouco tempo foram embora. E eu fiquei ali sentado, bebendo cerveja com loirona, que ainda me ofereceu um cigarro, depois de eu ter dito que não fumava. Disse: “guarde e dê para quem você gosta”. “Ela também não fuma, loirona”, eu disse, “mas vou guardar de qualquer forma”. Carlton curto de filtro amarelo.

No bolso da minha camisa de flanela puída, tamborilante solitário, o cigarro montava uma cena tão silenciosa e irreversível que uma lágrima escorregou pelo calombo alquebrado do meu nariz velho de guerra e desilusões acatarradas.

“Sua lágrima parece uma estrela”, disse loirona sem me olhar. E continuamos a beber em silêncio.

Um pouco de tempo passou sem que disséssemos nada. Um casal amigo – ela que um dia tinha tentado ser minha sem ceder o mínimo – passou andando. Ele esperou do outro lado da calçada, uma sombra clara na escuridão dos tempos. Ela veio até mim. Andava como um dia eu havia dito que era bonito seu andar.

“Tudo bem contigo?”, perguntou.

“Sim”, eu disse. “Essa é minha amiga, a loirona”.

Dobrou a cara.

Perguntei: “Você está com ele?”.

“Sim”, ela disse, “por enquanto sim”.

“Gosto dele. Parece ser um cara legal”.

“Preferia você... Se você se preferisse um pouco mais pelo menos”.

Me virei para loirona, que tinha esticado as sobrancelhas com os olhos baixos.

“Você vê, loirona, estou fadado”.

Minha amiga aproveitou que olhei para o lado, esculhambou meus cabelos na testa e disse: “Te cuida”. Sempre o mesmo pedido, na mesma hora ingrata: desapego em forma de culpa.

Atravessou a rua e se encaixou nos braços do camarada que tinha uma boa cara, mas muito clara para o mundo como era. Se perderam no filete de chorume da Rua da Lapa, que leva sempre, quem ainda tem como, para longe dali.

Loirona não olhou para mim quando disse: “Tua alma é cigana... O mundo é teu”.

Eu me sentia arruinado. Mas algo aconteceu naquele instante. Como as guelras de um peixe que volta para o mar enquanto o pescador ainda ri. Uma espécie de segunda chance. Ainda vi um sujeito que parecia o que imaginava que eu seria como pai, antes de me esquecer como fui parar em casa.

No dia seguinte, voltando do trabalho a pé, observava as pessoas apressadas nas ruas, umas tristes, outras desligadas, nenhuma alegre; mesmo as que riam, era por outro motivo, por conveniência ou constrangimento – casais de meia pessoa sob a fumaça da cidade – e eu pensava que estava talvez enlouquecendo de verdade, porque não conseguia entender minha própria língua e, portanto, o que as pessoas diziam. Como uma foto que caiu da cortiça porque a cola endureceu e rachou.

Na frente do cinema, vi saindo pela porta, cabisbaixo, o rapaz sério dos olhos fundos e cabeleira de cantor de bolero. Um jornal debaixo do braço e um copo de papel na mão. Pela fumaça, café fresco. Parou na minha frente. Eu tentei olhar as horas, velho truque dos encontros modernos, mas tive que parar para não trombarmos.

“Lembra de mim?”, ele disse.

Seus olhos estavam congestionados, como os meus. “Foi uma dura bebedeira”, pensei.

“É claro”, eu disse. “Escuta, cara, diz pra sua mulher que eu agradeço pelo que ela fez ontem”.

“O que ela fez ontem?”, ele perguntou.

Na claridade do terror citadino, vi marcas e manchas no seu rosto estropiado. Parecia indefeso sob a luz desavergonhada dos postes, que riam. Mas ainda mantinha a mesma delicadeza.

“Ela me deu uma noite a mais”, eu disse sem pensar, como faço quando falo com estranhos.

“Batemos com o carro ontem”, ele disse mecanicamente. “Ela morreu”.

O volume da rua em volta cresceu e eu vi tudo num borrão de cinza e vermelho e amarelo. Não consegui falar, nem olhar para o rosto do homem, apenas engoli o cuspe, que não veio.

“Desculpe ter que te falar assim”, ele disse, “mas não conheço outra forma”.

E apoiou sua mão no meu ombro, deixando o jornal cair no chão.

Apanhei seu jornal, cocei a barba, olhei para um lado, para o outro, e disse – não sei por quê:

“O amor nos traz os mortos e nos leva os vivos”.

Imaginei que ele não teria ouvido, porque disse muito baixo e para dentro.

“Eu amava aquela mulher”, ele disse pausadamente – as pausas nos lugares errados.

“Eu sei”, eu disse. “Quando vocês me encontraram no meio-fio eu pensava a mesma coisa
com relação a uma mulher. Não parece que exista qualquer solução para isso”.

“Preciso ir embora”, ele disse repentinamente, e espremeu os lábios. Ia chorar, mas se conteve. Estávamos na saída do cinema e um casalzinho passou sorrindo, a menina soltando bolhas de sabão.

“Tudo bem”, eu disse. “Não sei bem o que te dizer, desculpe”.

“Sorte no amor”, ele me disse.

E de alguma maneira, por mais banal que possa parecer, e talvez seja no banal que esteja a verdadeira questão que relutamos em admitir (e por medo compliquemos as coisas), aquela frase acumulava tudo o que eu precisava ter ouvido em toda a minha vida.
Virei e segui andando. Olhei para trás depois de dois segundos e o homem havia desaparecido. Havia fumaça espiralada na direção do céu de gris. Algumas pessoas comentavam num círculo sobre duas asas brancas de anjo, caídas na sujeira do chão molhado de lágrimas e podridão.

Leo Marona

quinta-feira, maio 18, 2006

O charme da imperfeição -Vejo aí um poeta que, como muitos seres humanos, atrai bem mais por suas imperfeições do que por tudo o que sai elaborado e perfeito de suas mãos- sim, a vantagem e a fama lhe vêm antes de sua derradeira incapacidade que de sua rica energia. Sua obra nunca expressa inteiramente o que ele gostaria de expressar, o que ele gostaria de ter visto: como se ele tivesse o antegosto de uma visão, nunca ela mesma; mas uma enorme avidez por tal visão lhe permaneceu na alma, e dela retira ele sua igualmente enorme eloqüência do anseio e da fome. Com ela, ele alça quem o escuta acima de sua obra e de todas as “obras”, dando-lhe asas para subir a alturas que normalmente os ouvintes não alcançam. Assim, tornando-se eles próprios poetas e videntes, tributam ao autor de sua ventura uma admiração tal, como se ele os tivesse levado diretamente à contemplação do que para ele é sagrado e supremo, como se houvesse atingido a sua meta e realmente visto e comunicado a sua visão. Sua fama é beneficiada pelo fato de ele nunca ter chegado à sua meta.

em A Gaia Ciência

Enviado por Alvaro Fagundes

terça-feira, maio 16, 2006

“impacientes pelo buquê do instante ralo”

São doses de álcool e eu, espinha repentina, sou portanto. Que me envergonhe de mim mesmo é o mínimo. Como posso me vangloriar do que tenho certeza? Primeiro que é ridículo gritar no vácuo. Digo: como posso dizer a palavra certeza em meu benefício? Cadafalso, cadarço juvenil, relação peso-quadril. Se a derrota não é certa na cabeça, mas conivente na atitude, que importa mergulhar nas horas que te fazem traquéia escura de sangue? Qual a relevância em pensar nas realidades inevitáveis (se criamos a realidade astuciosa em rugas)? Existem perguntas que eu faria a noite inteira, em busca de olhos vivos, ou cômodos embranquecidos para morrer em crase. Mas é mentira: olhos mortos – a criação do vento escolhe não ser areia – todos vivos apenas em frases comportamentais. Trata-se apenas de um erro típico do fim de tudo, conjugado simples como as costas dela infladas ao sono madrugado em sexo, confiscado de rito soprado pelo escudo do tempo, rajada de sem comício em lona, olho de luz branca, sem rebatedor. NÃO GOSTO DO CINEMA. Só se fala sobre isso. E se algo é sobre falado, não gosto. Me irrita falar quando morre gente preocupada em fazer carreira fantasiada de mito com cabelos escovados em naja cômica. Como se (D)ali estivesse a essência da derrota benéfica numa chave de braço (Sur)real. Mas disfarça-se a impressão de si próprio. Existe gole de conhaque que te faça santo? Não, mas, derrubado, posso lambê-lo. É isso que me importa enquanto estivermos mortos. A dose do líquido esquecida na sala branca sem quadros de nós, olhos ocos Lautrec, no passado vivo com pernas bilíngües. Paralisia infantil no sonho maternal. Linguarudos sucedidos corrigem acertos fálicos. Pessoas esperam na porta vazia dos rangedores românticos iletrados. Palavras, som e sal, corrigem arrepios natimortos. Novamente locuções de outra vez nós dois, dedicados ao esmo vesgo. Eu lambo línguas imaginando penas no banco de areia – e se não fosse o mar por qual te amo – apenas porque sei que só poderia sentir isso uma vez por mês – mesmo assim te falo coisas bonitas entre vírgulas espanholas, sendo que sou italiano falso. Escreve-se mal para se ser aceito n’aquilo que não se soube ser novo na hora que se passou errada – como se fosse possível – confortavelmente em letras. Porque se sabre pela raça humana, mato pelo quê? O que é inviável ao ego em chamas, lâmina de fio duvidoso, mas falante, na cama do fosso saudável, café-preto ralo, aperitivo ótico da beleza solitária em tábuas que falam sempre que penso amém.

Leo Marona
ops....... será que vocês vão aprovar a minha intervençãozinha?
assinado, natércia

segunda-feira, maio 15, 2006

TAI CHI

Tudo, absolutamente,
nesse mundo
é fatal.
Mesmo que indiretamente, mesmo
por dizer-nos
“tchau”.
Sim a vida é mesmo trem intenso
onde sou o que vem,
onde foi-se o que incenso...
Mar ao mar, contra-senso,
contra-golpe mais denso.


Sérgio Lohmann Couri
(sergio@tentaculodf.com.br)

Um certo manifesto

1. À guisa de declaração, o assim chamado Cinema Verdade é destituído de verdade. Ele atinge apenas a verdade superficial, a verdade de quem a conta.2. Um representante bastante conhecido do Cinema Verdade declarou publicamente que a verdade pode ser facilmente encontrada quando se pega na câmera e se tenta ser honesto. Ele lembra o vigia noturno da Suprema Corte que se ressente do volume de leis escritas e procedimentos legais. “Para mim”, ele diz, “deveria haver apenas uma única lei: os vilões têm de ir para a cadeia”. Infelizmente, ele está parcialmente certo, para a maioria das pessoas, em boa parte do tempo.3. O Cinema Verdade confunde fato e verdade, e assim prega no deserto. E mesmo assim os fatos às vezes têm um poder estranho e bizarro que faz sua verdade inerente parecer inacreditável.4. Fatos criam normas, e verdade cria iluminação.5. Há camadas mais profundas de verdade no cinema e existe algo como verdade poética ou enlevada. É misteriosa e evasiva e pode ser atingida apenas por meio da fabricação, imaginação ou estilização.6. Os cineastas do Cinema Verdade lembram turistas que tiram fotos em meio a antigas ruínas de fatos.7. Turismo é pecado, viajar a pé é virtude.8. A cada ano, na primavera, montes de pessoas em trenós de neve motorizados sofrem acidentes no gelo que derrete nos lagos de Minnesota e se afogam. O novo governador está sendo cada vez mais pressionado para que se aprove uma lei preventiva. Ele, antigo lutador de luta livre e guarda-costas, tem a única resposta sábia para isso:“Não se pode legislar a respeito de estupidez”.9. O desafio foi lançado.10. A lua é tola. A Mãe Natureza não chama, não fala com você, embora uma geleira às vezes peide. E não escute o Som da Vida.11. Devemos ser gratos ao fato de que o Universo lá fora não conhece o sorriso.12. A vida nos oceanos deve ser um inferno absoluto. Um inferno vasto e impiedoso de perigo permanente e imediato. Um inferno tão grande que durante a evolução algumas espécies — incluindo o homem — engatinharam, fugiram para alguns pequenos continentes de terra firme, onde as Lições da Escuridão continuam.
Walker Art CenterMinneapolis, Minnesota, Estados Unidos30 de abril de 1999Werner Herzog
http://www.bravonline.com.br/noticias.php?id=1953
enviado por cristiano fagundes
para os meus queridos amigos magrinhos e quase iguais, um presente singelo:
caso nos percamos em alto-mar, usamos este blog de farol.
um beijo e meu coração,
natércia.