A rotina tem seus encantos

quarta-feira, junho 13, 2007

“One day there is life. A man, for example, in the best of health, not even old, with no history of illness. Everything is as it was, as it will always be. He goes from one day to the next, minding his own business, dreaming only of the life that lies before him. And then, suddenly, it happens there is death. A man lets out a little sigh, he slumps down in his chair, and it is death. The suddenness of it leaves no room for thought, gives the mind no chance to seek out a word that might comfort it. We are left with nothing but death, the irreducible fact of our own mortality. Death after a long illness we can accept with resignation. Even accidental death we can ascribe to fate. But for a man to die of no apparent cause, for a man to die simply because he is a man, brings us so close to the invisible boundary between life and death that we no longer know which side we are on. Life becomes death, and it is as if this death has owned this life all along. Death without warning. Which is to say: life stops. And it can stop at any moment”.


Paul Auster, “The Invention of Solitude”, 1º parágrafo.

enviado por João.

segunda-feira, junho 11, 2007

“amor”

cada câimbra
em cada dedo
aproxima meu desejo
do teu hálito.

roupa nova
velha estirpe
somos todos
trapos sujos.

o encantamento
pela falta de uso:
sou aquilo
que te deu errado.

em mim sol
dia nublado,
sempre a vez
do bom amigo.

saco de chispas
hino de ossos,
este é o nosso
lugar sem rima.

se tu viste
com meu vício,
quando te avisto
veste-te.

asmáticas
cansam minhas narinas
na busca do toque frágil
do teu tiro.

mas sempre
que te junto
do chão frio
e te anuncio
em sangue,
teu absurdo
me desmente.

Leo Marona.

sábado, junho 02, 2007

“Senti e não estranhei que o pão tão saboroso ao paladar saudável seja enjoativo ao paladar enfermo e que a luz agradável aos olhos que vêem bem seja desagradável aos doentes. E a vossa justiça é desagradável aos maus – o mesmo acontece com a víbora e os répteis, que foram criados bons e adequados à parte inferior da Criação, à qual os seres maus também pertencem -, sendo tão mais semelhantes quanto são diferentes de Vós. Do mesmo modo, os maus são tão mais semelhantes aos seres superiores quanto mais se tornam semelhantes a Vós. Indaguei sobre a maldade e não encontrei uma substância, mas sim a perversão da vontade afastada de Vós, o Ser Supremo, tendendo em direção às coisas inferiores, expelindo suas entranhas e inchando-se toda”.


Santo Agostinho, Confissões, Cap. 16.

enviado por João.
karról v laván

Nos teus olhos de vidro
é a lágrima
um eco
ou chuva?
te espanca.

É um caco
perdido
de tua
superfície?

que se liquefaz
escondido,
quando visto?

é tua alma um jardim
de cristais pontiagudos?

é teu olhar
uma lâmina?
ou
só.

nos vitrais, vislumbres, lembranças
és por dentro
e por fora
mesma face vítrea
que afasta e demora
e esfria?


(Daniela Szwertszarf)